segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

II Mostra Atelier Vivaz – MILAGRE DO PRESÉPIO RENOVADO

Léa Ziggiatti para o Correio Popular



  Visitei recentemente uma nova galeria de Arte ! VIVAZ reúne um grupo de jovens artistas. Redundância. Nenhum artista deixa de ser jovem! A sua própria essência é a Adolescência perpétua. Disposta a crescer e a sonhar. Quando deixa de sonhar, o jovem deixa de ser artista e o artista deixa de ser jovem. Escurece e se deixa murchar...Quando desci do táxi em frente à casa da rua Sampaio Ferraz, as obras se ofereciam no jardim e se projetavam na calçada da rua. Na manhã de sol, exibiam-se totens de madeiras diversas e se multiplicavam em sombras pelo chão.A Galeria de Álvaro Azzan , aberta há pouco tempo na sua própria residência familiar, reuniu, neste final de ano, vários artistas amigos , em torno do tema –“Sob o Céu do Infinito” ! Nove artistas de várias partes do Brasil!.A diversidade de tendências, todas contemporâneas, transpirava entusiasmo, como se todo mundo aguardasse ali, uma ressurreição das artes plásticas para a nossa cidade, que precisa revitalizar seus espaços e suas propostas, voltar-se para os destinos do Museu de Arte Contemporânea , para o ressurgimento do Centro de Convivência e suas amplas galerias, tão cheias de um passado glorioso, construídos pelos nossos artistas eternos: Thomaz Perina, Egas Francisco, Biojone, Paulo Cheida, Geraldo Jurgensen, Bernardo Caro e tantos outros, vivos e mortos, que , lutando através da sua arte, projetaram a cidade por todos os cantos do Mundo. È preciso que as novas gerações se unam novamente, para reivindicar os espaços e o lugar que lhes são devidos. Em VIVAZ, consegui perceber essa semente que não pode esmorecer. Nas vésperas do Natal, apesar de não exibir nenhuma árvore natalina, a pequena galeria transpirava o espírito do Natal.Na quente manhã de primavera, as esculturas brilhavam ao sol, e as instalações ricas de sugestivo conteúdo, construídas com sucata e restos de pedras e vidro, ou até mesmo do “nada”, explodiam numa inquieta ânsia de se comunicar. Bem na entrada da galeria, fui atraída por uma delas: no chão de terra,que fazia parte do jardim, um retalho de espelho imitava um pequeno lago e sugeria a presença de um presépio... Daqueles, que eu e outras crianças como eu, montávamos na mesa da sala., quando os presépios se faziam assim , à beira de um pequeno lago de espelho quebrado, fazendo parte da paisagem com lapinha e manjedoura, com José e Maria, rodeados de anjos e reis magos, e pastores e vaquinhas e burros e ovelhinhas minúsculas , que se espalhavam por campos e colinas, na espera de Jesus. Foi com essas lembranças que conheci Tereza, Tereza Viana , refletida no lago que plantara no chão. Ela se apresentou: - “Eu sou Tereza... Com “z”!” Olhei espantada para ela, ainda mergulhada nas minhas lembranças infantis.: “- Com certeza, você fazia presépios , com laguinhos de espelho, quando era criança?” perguntei. “- Faço presépios, na verdade. Mas não foi neles que pensei quando fiz esse lago. Minha paixão é olhar para as nuvens e vi que posso fazer isso, sem olhar par o céu, mas sim para o espelho!” Ou para uma poça dágua, refletindo o céu!" Olhei para o espelho: nele , o pequeno lago que me fascinara, projetava as nuvens do céu e captava toda a sua amplidão, naquele pequeno espaço, fincado na terra.Imaginei então que poderíamos inovar nossos presépios e competir com as árvores fingidas, cheias de brilho, que fascinam as crianças. 



Construir presépios ao ar livre e ampliar o nosso mundo através dos espelhos, imitando lagos e refletindo o Infinito do Céu e a inconstância dos ventos, jamais se repetindo, ora infinitamente azul, ora inundado de raios de sol, ora carregado de nuvens, a captar sempre o espaço infinito e móvel do ar que nos rodeia. Tereza, colecionadora de nuvens, havia dado a sua lição de presépio, cumprindo uma bela missão: a de resgatar os presépios para todos nós, com a capacidade de competir, quem sabe, com a luminosidade monótona das árvores de mentira que hoje abafam, com seus enfeites dourados, e com a popularidade de Papai Noel, toda a grandeza do nascimento de um Deus!

Léa Ziggiatti escritora e educadora de Arte